NÔS IDENTIDADE
Sal

Os mitos e as histórias fazem parte da Cultura de um povo, contribuindo, em certa medida, na formação da identidade dessa Sociedade. Falar do Sal sem falar das suas histórias e mitos é impensável. A ilha contém uma imensa riqueza de histórias guardadas e contadas pelos nossos avós e por pessoas sábias mas que, com o passar dos anos, se têm vindo a perder da memória coletiva do Povo.

Este novo projeto “NÔS IDENTIDADE” irá retratar de forma original e criativa a história de todas as ilhas do arquipélago através de frases, desenhos e simbologias que serão disponibilizados num pacote, t-shirt + folheto digital + saco ecológico.

O conceito da marca Sintonton Séb teve como origem "retratar o que há de melhor em Santo Antão" tendo nesta nova fase, valorizar e preservar o legado histórico de Cabo Verde.


Nota: A presente T-shirt sobre Sal está sujeita a novas edições, sendo impossível contar toda a história da ilha numa única simbologia.

Farol da Fiúra

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Segundo uma informação publicada num BO de 1897, em 2023 completar-se-ão 126 anos da entrada em funcionamento do Farol da Fiúra, na Ilha do Sal. Em termos concretos, diz a referida informação: "O Farol da Ponta Norte ou Farol da Fiúra foi inaugurado no dia 10.04.1897, no extremo Norte da ilha.” Durante muitos anos o Farol da Fiúra desempenhou um papel fundamental na orientação da navegação marítima, na zona norte da ilha. Hoje só restam ruínas do Farol e da residência dos faroleiros, digna de uma visita ao local.

Ti Carj do Barril

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Ti Carj natural da ilha de São Nicolau, residiu na ilha do Sal e tornou-se numa figura conhecida pelas famílias locais. Numa época em que ainda não havia água canalizada, Ti Carj abastecia a maioria das casas da ilha com água que ia buscar no Poço Verde, na Terra Boa, na Vila Verde; e, mais tarde, no Fontenário da Câmara Municipal de Espargos. Homem habilidoso, conseguia transportar simultaneamente dois barris, um em cada mão, pendurando um saco de ferramentas às costas com pregos e pedaços de pneus de borracha para a manutenção dos seus barris. Distribuiu água aos moradores desde a sua chegada à ilha até 1985, altura em que os moradores passaram a ter água canalizada nas suas casas.

Ildo Lobo

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Nasceu a 25 de novembro de 1953, em Pedra de Lume, Ilha do Sal, no seio de uma família com tradições musicais. Aos 14 anos começa a cantar. Estreia-se pela primeira vez no palco com a representação teatral da peça intitulada “História do riso e do choro”. Fez parte de alguns agrupamentos musicais no Sal, destacando-se o “Únicos e o Improviso”. Em 1973, a convite do primo Luís Lobo, integra o grupo musical “Os Tubarões”, no qual permanece vocalista até 1995, data da paragem do grupo. À margem de “Os Tubarões”, integra o grupo musical acústico “Nova Aurora”, composto por grandes músicos, entre os quais Luís Morais, Manel d´Novas, Chico Serra, Artur Gomes, Vitorino Silva, Humbertona. O seu último disco, “Incondicional” foi lançado poucos dias depois da sua morte, a 20 de Outubro de 2004, na cidade da Praia, com apenas 51 anos de idade.

Désiré Paul Bonnaffoux

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(Cabo Verde, 1908 -2001, França) Filho de mãe cabo-verdiana e pai Francês, Désiré Bonnaffoux, nasceu no dia 31 de Outubro de 1908 em Sal-Rei, ilha da Boa Vista. Começou os estudos primários na Praia e terminou-os em São Vicente. Em 1923, acompanhou o pai vindo trabalhar na Salins du Cap-Vert, na ilha do Sal. Em 1930/31, depois de uma estadia em Thiès, no Senegal, para o serviço militar, volta para a Salins du Cap-Vert da qual se torna o Diretor no princípio de 1935. A direção da salina não foi tarefa fácil devido a grande crise económica dos anos 20/30, tendo toda a sua carreira sido dominada pela constante preocupação de fazer funcionar e progredir a salina. Após se aposentar em 1668, frequentou assiduamente as principais bibliotecas de Lisboa e de Paris pesquisando documentos antigos sobre as ilhas de Cabo Verde. Hoje, as suas obras, os seus escritos estão sendo publicados pela Associação Pérolas de Sal tendo lançado o Livro Músicas Populares Antigas de Cabo Verde, com mais 4 livros em preparação para futuros lançamentos.

Pedra de Lume

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Vila Pedra de Lume foi construída em 1796, por Manuel António Martins e foi dividida em duas partes:
- As casas dos escravos no alto do morro;
- O porto, o armazém e o teleférico descendo a colina;
A antiga cratera de Pedra de Lume é famosa pelas salinas que se encontram no seu interior. Salinas que tiveram os seus “tempos de ouro” durante o século XVIII, quando o sal era exportado principalmente para o Brasil. Adicionalmente, foi aberto um túnel na parede do vulcão, possibilitando um melhor acesso às salinas. Nos dias atuais Pedra de Lume é uma das principais atrações da ilha, podendo apreciar-se a vista do topo da cratera ou banhar-se na segunda água mais salgada do mundo. Considerada património nacional é uma das sete maravilhas de Cabo Verde.

Teleférico do Sal

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O Teleférico foi construído entre 1921/22, pela empresa alemã Adolf Bleichert, com 1.100 m de comprimento, suportado por uma dezena ou mais de cavaletes com troncos vindos dos Alpes franceses, com capacidade de transportar até 25 toneladas de sal por hora. O teleférico substituiu o transporte do sal antes feito por animais e impulsionou o alavancamento da exploração do sal na ilha. Adicionalmente, foi aberto um túnel na parede do vulcão, possibilitando um melhor acesso às salinas. Os principais mercados de importação do sal de Cabo Verde passaram a ser as colónias francesas e belgas em África. A empresa possuía uma flotilha de lanchas e 2 rebocadores, cais, escritórios, armazéns, posto sanitário, lojas, alojamento e oficinas mecânicas e carpintaria. A salina de Pedra de Lume foi o sustento de muitas famílias, restando nos dias atuais somente ruínas do teleférico, daquele que foi outrora uma grande obra de engenharia, dado o real contexto da época da sua construção.

Dona Tututa

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Epifânia de Freitas Silva Ramos, “Tututa”, como era carinhosamente tratada, nasceu no Mindelo, cidade onde despontou no piano com bastante mestria e já aos 16 anos começa a dar concertos para o público em geral, mormente em casamentos, batizados e receções no Grémio. Aos trinta e dois anos, no auge do sucesso em Mindelo, contrai casamento deixando para trás uma carreira promissora. A atividade artística ficou secundarizada mas manteve a paixão pela música, fazendo concertos intimistas e ministrando aulas de piano na sua nova residência em Lomba Branca (Sal) onde passou a ser, a partir dos anos 50, o ponto de encontro dos músicos, entidades nacionais e estrangeiras que passavam pelo Sal. Gravou um LP com composições que ultrapassaram as nossas fronteiras como “Grito de dor”, “Sentimento”, “Mãe Tigre” ou “Vida Torturod”. É também conhecida pela melancolia das suas letras e elogiada pelo “swing da mão esquerda” que fez escola na interpretação ao piano da música popular de Cabo Verde. Dona Tututa é patrona da Escola Municipal de Artes da ilha do Sal e o seu nome foi atribuído a um dos navios da CV Interilhas.

Ti Clau

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Ti Clau foi um exímio pescador e uma referência da pesca do atum nos rochedos (em terra firme). Esta tradição é única da zona da Palmeira na ilha do Sal, não havendo relatos de outro sítio em Cabo Verde onde é feita a pesca do atum na "rocha" dessa forma. Técnica que gera espanto e dificuldade em compreender. Com uma simples cana de nervo da folha de coqueiro e uma linha do comprimento de meio metro, é possível pescar o atum em terra firme. O processo de pesca do atum ocorre por meio do engodo; o atum é atraído pouco a pouco do alto mar até ficar ao pé da "rocha", ao alcance da cana e de um croque (um gancho), instrumento sem o qual não seria possível retirar o atum da água e arrastá-lo para terra firme. Ti Clau era mestre nesta técnica deixando um importante legado. Recentemente, Nicolau Mosso viria a dar o nome ao Pesqueiro de Tio Clau na zona da Palmeira, podendo-se contemplar o busto da sua imagem no local.

Bimotor Savoia-Machetti

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A Ilha do Sal atravessava, no início do século XX, uma grave crise económica devido à decadência da indústria salineira. A salvação foi a construção do primeiro aeroporto de Cabo Verde na ilha, hoje Aeroporto Internacional Amílcar Cabral. Por volta de 1935, o governo italiano enviou para Cabo Verde uma equipa de estudo à procura de um sítio para a instalação de um aeródromo de escala entre a Europa e a América do Sul. Após as visitas à Boa Vista, Maio e Sal, a escolha do estabelecimento do aeródromo acabou por cair sobre a ilha do Sal por esta apresentar melhores condições. Em 1939, na localidade de Chã de Parda, ou campo da Fortuna, aterrou um bimotor Savoia-Machetti, comandado pelo Tenente-Coronel Tonini e pilotado pelo Major Mascatelli. Tornando-se num evento histórico como o primeiro avião a aterrar no território de Cabo Verde.

Hotel Atlântico

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A indústria hoteleira salense iniciou com a abertura do Hotel Atlântico, inaugurado em 1940-41, adjacente ao aeroporto. Esta infraestrutura turística deu um forte contributo na consolidação do Aeroporto de Cabo Verde como porta de entrada e saída do país, pois era nela que ficavam hospedadas as primeiras tripulações chegadas à ilha.

Património Arqueológico Subaquático

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Ao longo dos séculos XV a XVIII os mares de Cabo Verde foram cruzados por navios oriundos de Portugal, Espanha, Holanda, França, Dinamarca, Inglaterra, América do Norte, entre outros. As trocas comerciais e o consequente aumento do volume e do número de navios que percorriam as nossas águas, ganharam maior dinâmica com a entrada no circuito comercial das companhias das Índias Orientais holandesa, inglesa e francesa, no início do século XVII. Tal intensidade provocou um considerável crescimento do tráfego marítimo e uma consequente perda de navios de diferentes nacionalidades, deixando em torno da ilha um rico legado patrimonial. Alguns dos artefactos recuperados do mar podem ser visitados no Museu do Sal, em Santa Maria, bem como no Museu da Arqueologia em Santiago.

Caminho-de-Ferro

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Manuel António Martins construiu as marinas, instalou bombas de vento para as alimentar, ao mesmo tempo que assentou uma via-férrea para levar o sal da salina até ao ponto de embarque. Segundo consta, esta foi a primeira linha-férrea assente em todo o território português, tendo começado a funcionar em 1837. Com a construção do caminho-de-ferro, a exportação do sal disparou exponencialmente. A indústria salineira era uma das riquezas de Cabo Verde e todo o sal era exportado para o Brasil. Em 1887 o governo brasileiro, querendo proteger e favorecer a sua indústria salineira, tributou o sal estrangeiro com direitos proibitivos, o que terá contribuído para que as ilhas salineiras de Cabo Verde caíssem, a partir dessa altura, na mais profunda miséria. Dado interessante, os vagões de ferro, numa primeira fase, eram movidos através da tração animal ou pela força do vento utilizando um vela de pano presa no veículo.

Manuel António Martins

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(Braga, 1772 - 1845) foi o fundador de Santa Maria, figura incontornável da história da ilha do Sal. O mais abastado e poderoso homem de Cabo Verde da primeira metade do século XIX tendo desempenhado altos cargos. A história de Manuel António Martins em Cabo Verde começou por mera casualidade, quando, a caminho dos Açores, o seu barco foi arrastado pelas correntes, acabando na ilha da Boa Vista. Ali conheceu Maria Ferreira com quem se casou e teve 16 filhos. Tendo ele visitado a ilha do Sal, em 1796, começou logo a explorar as salinas ali existentes. Martins foi desenvolvendo outras atividades tais como criação de gado em S. Vicente, negócios na Boa Vista, Santo Antão, Santiago e Brava. Morreu em 1845 e foi sepultado no Cemitério de Santa Maria. Os seus feitos foram eternizados no romance “O Senhor das Ilhas” e "Vozes do Vento", escrita pela sua tetraneta Maria Isabel Barreno, publicado em 1994.

Mitu Monteiro

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Oteniel Jorge Monteiro, nasceu em julho de 1983, em Santa Maria. Atleta dedicado ao desporto náutico, campeão mundial de wave master e quatro vezes vice-campeão do mundo. Desde a sua infância, revelou a sua grande paixão pelo mar tornando-se conhecido internacionalmente por ser um atleta a 360°. Mito começou com o bodyboard, passou pelo surf e windsurf, mas acabou por se consagrar pelo kitesurf. Com um estilo arrojado de surfar, incentivou outros atletas de Cabo Verde a correrem atrás de seus objetivos através do desporto. O desenvolvimento do kitesurf na ilha despoletou o turismo de desportos náuticos o que permitiu a inclusão social dando a possibilidade a muitas pessoas de se envolverem com trabalhos ligados ao turismo. Em 2011 criou a escola “Mitu & Djo Kitebeach” juntamente com o seu amigo de longa data, Djo, oferecendo experiências autênticas aos apaixonados de Kitesurf junto dos melhores coachs de ondas do Mundo.

Hotel Morabeza

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A indústria hoteleira de praia, todavia, só viria a surgir na década de sessenta do século XX, mais concretamente em 1967, com a Pousada Morabeza, posteriormente transformada em Hotel Morabeza pelo casal belga Vynckier, que escolheu viver em Cabo Verde devido à sua boa reputação climatérica. Foram, assim, lançadas as bases para a indústria hoteleira de praia, nesta ilha que, de então para cá, cresceu de forma vertiginosa, com impactes profundos sobre a economia nacional.

Companhia Fomento de Cabo Verde

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Em 1920, a Companhia de Fomento de Cabo Verde comprou a maior parte das marinhas de Santa Maria, tendo adquirido um Edifico emblemático localizado ao pé do Pontão de Santa Maria. A Companhia de Fomento, cuja finalidade era a exploração do sal e da pesca, não conseguiu nenhum resultado interessante na pesca, apesar de dispor de três veleiros e de ter feito tentativas nos mares do Cabo Branco. Em breve vendeu os veleiros e foi-se concentrando na exploração do sal, até que nos anos 1927-1928 associou-se a uma firma portuguesa de comércio geral no Congo Belga, que se encarregou da comercialização do sal nesse país, dando um apreciável impulso à actividade salineira em Santa Maria. Foram renovadas todas as linhas-férreas, o material rolante e foi construído um novo cais de embarque empregando assim muitas famílias. O Edifico emblemático do Pontão foi o local administrativo da empresa.

Barco Damfjord

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Em 1948 a Ilha do Sal, à semelhança de todo Cabo Verde enfrentava uma terrível crise devido à seca e à falta de movimento nas salinas, obrigando grande parte da população a viver numa situação extremamente difícil. No dia 9 de março do mesmo ano, chega a notícia do encalhe de um navio Dinamarquês, na costa leste de Santa Maria. Tendo o acidente ocorrido durante a noite, a notícia correu célere logo de manhãzinha, pois o barco era visível da vila despertando grande ansiedade na população. O barco Damfjord estava carregado de diversos mantimentos como café, cacau, chocolate, óleo, etc., o que contribuiu para o alívio do sofrimento do povo. O encalhe do Damfjord foi um dos eventos de maior relevância para a Ilha do Sal, passando a constituir parte da memória colectiva do povo.

“O futuro pertencerá àqueles que tiverem melhor memória, mantendo vivo o que de mais genuíno possuímos …”

- Provérbio Judaico

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